1.Como são as consultas?
Nas primeiras consultas é explorado o motivo da procura por atendimento e quais são os sintomas atuais e sua interferência no dia a dia do paciente. Colaborativamente são definidas metas e objetivos que o paciente gostaria de trabalhar e é comum abordar um pouco do histórico do paciente, que possibilita entender melhor o surgimento das dificuldades atuais.
2. O que eu preciso falar?
Não há um script definido e não há a necessidade de saber objetivamente o que te incomoda ou o que provoca seus sintomas. As consultas são colaborativas, paciente e terapeuta vão estar trabalhando juntos para entender melhor os sintomas do paciente e definir o que pode ser feito.
Não tem como você falar algo que seja errado já que toda informação é válida. Tudo que você já tiver pensado sobre você mesmo é extremamente útil, não é necessário conhecimento em psicologia para formular hipóteses e entendimentos dos próprios sintomas.
3. Quanto tempo dura cada consulta?
As consultas tem duração de 45-50 min. Embora esse tempo de duração seja mais comum há diferenças de acordo com o profissional da psicologia ou da abordagem psicoterapêutica utilizada por ele.
4. Qual a frequência das consultas?
A frequência das consultas é definida de acordo com a demanda de cada paciente. A maioria dos pacientes realiza consultas semanais ou quinzenais. Consultas mais frequentes permitem trabalhar um maior volume de conteúdo, em consultas menos frequentes os acontecimentos são trabalhados de acordo com as prioridades e metas de cada paciente.
5. O que são linhas teóricas?
A psicologia clínica conta com varias linhas teóricas de atuação, algumas você já deve ter ouvido falar, como psicanálise, cognitivo comportamental, gestalt… O psicólogo clínico vai atuar com maior embasamento em uma linha teórica e utilizará essa perspectiva para trabalhar os sintomas apresentados pelos pacientes.
Os pacientes podem se identificar com abordagens diferentes de acordo com suas características e objetivos. É possível ler sobre cada linha teórica na internet ou você também pode marcar uma primeira consulta para conhecer melhor o trabalho do profissional.
6. Ir no psicólogo não é só conversar!
Conversar com alguém que se goste, receber conselhos e poder partilhar sentimentos costuma ser bastante gratificante, porém, a psicoterapia é muito diferente disso. A psicoterapia vai ajudar com as coisas que não entendemos bem de onde vem, que não conseguimos lidar sozinhos, e que os outros podem não entender bem também, como bloqueios para fazer coisas simples ou padrões que são repetidos mesmo tendo consequências negativas.
A psicoterapia utiliza de técnicas próprias desenvolvidas para cada tipo de sintoma ou transtorno e que são amplamente pesquisadas e validadas. Por ser uma ciência há grande preocupação com resultados. De acordo com o código de ética, o psicólogo precisa utilizar de técnicas comprovadamente efetivas. Há protocolos básicos para o tratamento de cada transtorno que são reconhecidos e indicados pela OMS, nessa lista de tratamentos indicados a terapia cognitiva comportamental é a linha teórica mais citada justamente pela grande preocupação em validação dos seus resultados. Então nenhuma psicóloga vai utilizar de uma técnica porque ela “acha”, como acontece com os conselhos dos seus amigos, na psicologia se utilizará de técnicas previamente testadas de acordo com a conceitualização de caso de cada paciente.
Para saber mais leia: Psicólogo dá conselhos ?
7. É possível terminar o tratamento em poucas consultas?
Isso é possível de ser feito com metas pontuais como: “Devo sair do meu emprego?”
No caso de varias queixas pontuais ou de queixas não muito claras ou objetivas, não há como definir o tempo de duração do tratamento pois isso dependerá de muitos fatores, como características do paciente, da abordagem utilizada pelo psicólogo, situações de vida atual…
8. Eu vou ficar curado?
Cura é uma palavra que você não vai ouvir seu psicólogo falando. Se tratando de transtornos como depressão, por exemplo, as pessoas comumente deixam de ter depressão após o tratamento adequado. Mas quando se fala de características, como carência, egoísmo, cobrança… não há como retirar todas as características do indivíduo a ponto de deixa-lo sem característica alguma. Todos somos únicos justamente pelas nossas características, o que define se uma característica é adaptativa ou não é o grau de intensidade em que ela se manifesta. Egoísmo de forma moderada nos permite lutar por nossos interesses da mesma forma que empatia de forma exagerada provoca um excesso de foco nos interesses dos demais. O objetivo é regular a intensidade das estratégias que são acionadas por estas características, como a dedicação ao aprendizado que é provocada pela cobrança, e utilizar desses modos de enfrentamento em uma intensidade benéfica aos objetivos do paciente e ao seu bem estar.
9. Você precisa olhar para todas as suas questões mais profundas durante o tratamento?
Não, e ninguém vai obrigar você a falar de coisas que não quer falar. Todas as pessoas têm o seu tempo, se for muito desconfortável falar de algo você não precisa se sentir pressionado a falar disso. Se essas questões estiverem influenciando justamente nas situações e sintomas que levaram você a buscar terapia, não há como atingir seus objetivos sem abordá-las, porém isso pode ser feito de forma gradual respeitando as necessidades de cada paciente.
10. Eu vou precisar de medicação?
Isso depende dos seus sintomas, da frequência, intensidade e prejuízos causados por eles. Geralmente os pacientes ficam incomodados quando há a indicação de consultar um psiquiatra para a utilização de medicação, como se isso fosse uma falha pessoal.
Socialmente ainda há muito desconhecimento sobre esse tópico, há muitas situações que levam as pessoas a utilizar medicação, porém só costuma haver resistência em casos de medicação psiquiátrica. É relevante considerar como você se sentiria se, ao invés de medicação psiquiátrica, você precisasse utilizar uma medicação anti-hipertensiva. A grande maioria das pessoas não relutaria em seu uso já que os riscos associados a não utilizar essa medicação são bem maiores que os possíveis efeitos colaterais e continuar utilizando a medicação traz um aumento significativo na qualidade de vida do paciente. Utilize a mesma abordagem em casos de medicação psiquiátrica, só há necessidade quando os sintomas decorrentes de algum transtorno psicológico são muito mais incapacitantes que os possíveis efeitos colaterais da medicação. Entre não conseguir trabalhar ou se divertir e ter algum efeito colateral como dores de cabeça, o que você acha que interfere mais na sua qualidade de vida?
*Lembrando que o psicólogo não prescreve medicação, isso é feito por psiquiatras.
Para saber mais acesse:
Eu realmente preciso de terapia?
Foto: Jack Moreh