Uma coisa que eu ouço muito sobre sentimentos é o medo de perder o controle, medo de fazer algo vergonhoso, medo de explodir de raiva ou medo que a ansiedade fique grande demais.
O que desencadeia esse pensamento é uma série de comportamentos que realmente fazem com que os sentimentos se desregulem e se expressem de forma instável.
Para analisar tudo isso é importante avaliar como você julga seus sentimentos, o que você pensa de você mesmo sobre sentir isso? Alguns exemplos podem ser :
“É errado sentir raiva das pessoas”
“Se eu me permitir sentir tristeza ela nunca mais vai passar”
“Preciso estar feliz o tempo todo”
“Ansiedade é ruim e significa que eu sou despreparado”
Esses julgamentos sobre os sentimentos geralmente fazem com que as pessoas os reprimam, mesmo que não de forma consciente. Essa estratégia não é muito útil por vários motivos.
O primeiro é que você perde informações muito importantes que os sentimentos podem passar para você, como eu escrevi no texto sobre raiva e tristeza.
Sentimentos são mecanismos biológicos, cuidadosamente selecionados através da evolução humana. O fato de eles continuarem existindo até agora significa que são importantes para a sobrevivência. Conseguir utilizar os sentimentos como uma forma de percepção do ambiente pode ser bastante adaptativo.
O segundo motivo é que você não consegue reprimi-los por muito tempo. Fazendo um paralelo com necessidades fisiológicas – como comer ou respirar – se segurarmos a respiração por muito tempo, isso vai criando uma necessidade muito grande de ar e quando pudermos respirar isso será feito de uma maneira desregulada, muito mais intensa que o regular.
Sempre que eu falo para os pacientes que evitar ou reprimir o que sentem não é um mecanismo muito eficiente, eu recebo um olhar de medo e desconfiança. Como assim que essa estratégia que ajuda tanto em momentos de crise não é eficiente? A resposta disso vem em soluções de curto e longo prazo. Muitas coisas que funcionam em curto prazo não são boas estratégias para o longo prazo e não resolvem o problema. Se você estiver desempregado e receber uma quantia certa de dinheiro, a estratégia em curto prazo seria de utilizá-lo para suas necessidades imediatas, juntamente com alguns caprichos, como eletrônicos.
Mas isso de forma alguma resolveria o seu problema. Apenas diminuiria a sua preocupação momentaneamente e geraria uma sensação de prazer. Usando uma estratégia muito menos prazerosa de utilizar esse dinheiro, como investimento em algo que possa gerar uma renda, você pode resolver o seu problema de desemprego.
Como lidar com isso então?
Quando ficar triste/ansioso/bravo acolha esse sentimento dentro de você. Não tem nada de errado em você, todas as pessoas sentem essas mesmas coisas.
Acolher sentimento não significa acolher comportamento. Pense com clareza no que você precisa e qual é o melhor comportamento para ter naquela situação. Comportamentos disfuncionais só pioram a situação e, consequentemente, o sentimento.
Cuide de você mesmo, faça algo que você gosta, coma uma comida gostosa, assista uma série na TV. Entenda que o desconforto do sentimento é apenas temporário e não está ligado a problemas maiores como morrer ou enlouquecer.
Lidar com os sentimentos vai mudando a percepção deles como perigosos e vai fazendo com que você perceba que as coisas catastróficas que previu não acontecem naquela intensidade. Conforme eles forem menos reprimidos, sua intensidade vai sendo mais regulada. Vai fazendo com que você crie confiança em sua habilidade para lidar com a situação e segurança em passar por isso novamente.
Foto: Jack Moreh