Muitas vezes, tentamos nos colocar em uma caixinha e essa caixinha diz respeito ao ideal que acreditamos precisar cumprir. O que pode estar englobando todos os aspectos da sua vida: aparência, sucesso profissional, vida social ou estar restrita e alguns desses itens.
Esse ideal foi se construindo ao longo de toda sua vida pela interação entre seu temperamento e as experiências com seus pais, colegas de escola, relacionamentos amorosos, a visão que você foi construindo de si mesmo e exigências sociais. É algo que está sempre em expansão, de acordo com as novas demandas da sua vida.
E, enquanto expectativas de sucesso (ser aceito pelos outros, ter um relacionamento que lhe faça bem) é extremamente comum e saudável, há um grupo – que na teoria do esquema poderia se encaixar no esquema de padrões inflexíveis – que acredita que a satisfação está somente em atingir o maior nível de desempenho e esforço nessas áreas.
E eles tentam exaustivamente suprir esse ideal que foi sendo construído dentro deles. Isso que denominei como caixinha da perfeição, tudo que saia minimamente fora dessa expectativa é altamente criticado e precisa ser corrigido.
Isso ainda tem uma tendência a se espalhar para os outros com quem você se relaciona. Amigos e namorados também vão ter uma caixinha que precisam se encaixar e que envolve os mesmos mecanismos de perfeição e críticas.
Agora, se você se encaixou nesse grupo, pare um minutinho para pensar o que isso significa, que sentimentos isso costuma trazer pra você? Você costuma se sentir satisfeito consigo mesmo? Geralmente isso não acontece e a pessoa vive em um mar de tensão, exigências e insatisfação. Como estamos falando de pessoas e não de matemática, o ideal se torna extremamente subjetivo e pode ser empurrado cada vez mais adiante, de um modo que você nunca o alcance, mesmo sempre buscando por ele.
O mesmo acontece com as pessoas com quem você se relaciona, elas podem estar sempre se esforçando e mesmo assim sempre frustrando você, porque esse ideal pode ser tão perfeito que admita muito pouco o erro ou o defeito, passando a ser algo sobre-humano, que ninguém vai conseguir atingir.
Isso causa insatisfação com sua carreira, seu relacionamento, sua aparência física, e faz com que você esteja o tempo todo correndo e lutando para atingir isso, mas dificilmente consegue, ou assim que consegue essa meta passa a ser irrelevante e você precisa se lançar em busca da próxima. Esse passa a ser um sistema que se retroalimenta e pode provocar quadros depressivos ou ansiosos.
Se com o tempo você foi percebendo que correr irrefletidamente atrás disso não está realmente fazendo você se sentir mais satisfeito, quem sabe pode começar a pensar em uma abordagem no sentido de quebrar um pouco essa caixinha. E, antes que você diga que eu quero transformar você em um fracassado, não precisamos ficar em uma postura 8 ou 80. Dá pra quebrar só um pouco dessa caixinha para criar espaço para as penas. Então, você pode ter metas ambiciosas, mas parar no nível em que elas se tornam exigentes demais e comecem a prejudicar seu desempenho ou seu estado mental.
Admitir alguns erros ou a falta de habilidade em algumas coisas alivia muito a pressão, em você e nos outros. Priorize algumas coisas ao invés de tornar tudo sua prioridade e inclua se sentir bem com você mesmo nessas prioridades. Entenda que você pode ter mais tempo para atingir uma meta.
Um fator que provoca muita ansiedade ultimamente é o fenômeno dos Mark Zuckerberg, onde se você não for bilionário aos 30 já está em desvantagem. Cada pessoa tem seu tempo, e suas metas também. Você tem certeza que estando no lugar dele você iria sentar e pensar
“Isso era tudo que eu queria, agora não preciso de mais nada e vou ser feliz pra sempre”.
Antes de correr atrás de algo, veja se é isso que você realmente precisa ou se só ligou o modo automático e está correndo atrás de tudo ou atrás das mesmas coisas que os outros também estão. Defina as suas próprias metas, foco em tudo é a mesma coisa que foco nenhum. Pare um pouco para ver onde você está ao invés de focar o tempo todo em onde precisa chegar. Curta o que você tem ao seu redor, no momento presente. Viver de futuro é não viver. Você nunca está nele. E então, com calma, trace metas realistas para você e vá atrás delas.
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Referências: Young, J. E., & Klosko, J. S. (1994). Reinventing your life: The breakthrough program to end negative behavior…and feel great again. New York: Plume Book.