Por que sentimos raiva?

Uma das minhas ultimas postagens foi sobre a tristeza e sobre o motivo de sentirmos tristeza. Continuando as postagens sobre sentimentos, eu vou explicar um pouco sobre como a raiva funciona e qual seu objetivo.

A raiva, como qualquer outro sentimento, é algo extremamente normal de ser sentido. Socialmente, aprendemos muita coisa errada sobre sentimentos e sobre a raiva. O que costumamos ouvir é que ela é ruim e não deve ser sentida.

Primeiro: isso é uma enorme bobagem.

Segundo: quando sentimos raiva (porque, sim, todo mundo sente de vez em quando) se esse julgamento sobre ela passar pela nossa cabeça, o comportamento subsequente será tentar reprimi-la.

O que acontece se a raiva for reprimida?

Para isso, eu primeiro preciso explicar para que ela serve.

Segundo Greenberg, a raiva costuma ser evocada frente a situações de violação de direitos ou necessidades, quando há um sentimento de que alguém está ultrapassando o limite do que consideramos como nosso direito. O objetivo da raiva é gerar uma mobilização interna, que fornece os recursos necessários para sua defesa, a fim de provocar um comportamento que permita ser assertivo nessa situação. Ser assertivo frente à violação geralmente significa não permitir que seus direitos sejam violados, ou não permitir que essa violação continue. Então, resumindo, o objetivo da raiva é possibilitar a própria defesa.

Quando a raiva é vista como algo ruim, é fácil entender o porquê do comportamento de reprimi-la. Se a raiva é reprimida, ela não se transforma em comportamento de defesa, e faz com que não se consiga impedir ou interromper uma situação de violação de direitos. Isso costuma gerar uma sensação de fragilidade, de ser indefeso.

Passar por situações diárias sem conseguir se defender, como fazer mais atividades que seus colega de trabalho, ser cobrado a mais por algo ou receber o pedido errado em um restaurante, tudo isso pode provocar um acúmulo de raiva.

O que acontece com a raiva depois de ser acumulada? Você explode e tem uma reação desproporcional em uma situação simples. Então, essa estratégia de guardar a raiva costuma gerar uma desregulação desse sentimento e consequentemente comportamentos oscilantes entre não a reação e as explosões de raiva. Junto com isso vem a insegurança de se sentir indefeso, já que nenhuma dessas estratégias é eficaz para defender os próprio direitos e necessidades.

A estratégia contrária, nesses casos, é o ataque. Mas atacar ao outro não faz com que as pessoas sintam que realmente estão se defendendo, já que isso costuma gerar outro ataque, em contrapartida. Resumindo, essa estratégia acaba resultando em duas partes violando os limites uma da outra. Então, quando você usa o comportamento de ataque em situações de violação, provavelmente isso faz com que você se sinta indefeso frente aos outros – mesmo que você não queira admitir isso – já que também gera a sensação de não conseguir se defender.

Então, o que fazer nesses casos? A resposta é assertiva. É usar a raiva como combustível e expressar claramente o que você quer e precisa. Explicar ao colega que você já tem trabalho suficiente e não consegue ajudá-lo no momento, ou poder explicar em um restaurante que aquele não é seu pedido e solicitar que ele seja trocado.

É normal associarmos o sentimento de raiva ao comportamento de agressão – outra bobagem aprendida socialmente. O objetivo da raiva é impulsionar comportamentos que possam resolver a situação para você, ou seja, fazer com que você sinta que tem a capacidade de se fazer ser ouvido e respeitado. Conseguir fazer isso em situações cotidianas gera aquela confiança interna que vemos muitas pessoas demonstrarem, e, simplesmente, a sensação de estar seguro na própria companhia.

 

____________________________________________________________________________________

Referências: Greenberg, L. (2006) Emotion Focused Therapy for Depression. APA: Washington.

Foto: BenjaminMiller

 

1 comentário em “Por que sentimos raiva?”

  1. Pingback: Evitando que seus sentimentos saiam do controle |

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ENVIAR MENSAGEM
Estamos Online
Olá, como posso lhe ajudar?