Pensar positivo nem sempre é uma boa ideia..
Todo mundo tem um amigo que se acha meio psicólogo, que ouve e aconselha todo mundo. Quantas vezes você já ouviu ele falando “olha pelo lado positivo”? O texto de hoje é pra dizer PAREM! Não é pra ficar pensando positivo como se isso fosse algum mantra pessoal. O cérebro humano se desenvolveu através de anos evolução justamente para poder olhar o lado negativo e garantir a sua sobrevivência. É preciso poder largar a ditadura de ser feliz o tempo todo e usar o pessimismo a seu favor.
Mariana é líder de uma equipe de desenvolvimento de software, no final da semana ela deve apresentar os dados de desempenho semestral de sua equipe para os gestores da empresa onde trabalha. Há três semanas ela olha todos os dias para o post it colado na tela do seu computador onde está escrito “fazer apresentação para a reunião semestral”, finge que não viu e se ocupa com tarefas que ela tenta acreditar que são mais importantes.
O que a Mariana está tentando esconder dela mesma é o medo e pressão que está sentindo toda vez que imagina como a reunião será. Ela tem alguns pensamentos que aparecem o tempo todo dizendo que ela vai gaguejar ou que mostram o semblante descontente de seus superiores na reunião. Toda vez que ela tenta não pensar nisso as preocupações somem por um tempo e reaparecem posteriormente com maior intensidade.
Somada a essa atitude de evitação temos a construção social onde tudo precisa ser tratado de forma racional. É fácil racionalmente acreditar que estar bem preparado e ter bons resultados em situações semelhantes é o suficiente para prever que tudo vai dar certo e portanto não há com o que se preocupar. O mínimo esperado de uma pessoa bem preparada é a exibição de uma carga inabalável de confiança e tranquilidade fruto de todo esse pensamento positivo sobre seu potencial.
Aqui vai algo que nem a Marina nem muita gente pensou:
- Se está tudo tão tranquilo, não há nenhuma ameaça, porque todo o sistema fisiológico do organismo está alertando constantemente sinais de perigo?
Ele não pode estar simplesmente quebrado.
Acreditar que não há motivo para preocupação torna as sensações desagradáveis um fardo a ser evitado juntamente com todo o sistema de alarmes natural do organismo, evitando consequentemente o que ele está tentando avisar. Quando ignorado, para chamar atenção à sua mensagem, o medo/ansiedade/tristeza se tornam mais intensos e desconfortáveis, o que muitas vezes leva a uma nova tentativa de evitação.
A interpretação mais comum foca somente nas sensações, se estas são desagradáveis automaticamente precisam ser desconsideradas e evitadas. Essa é a ditadura da felicidade, se não está feliz é porque está fazendo algo errado. Acredita-se que ter medo, ansiedade, tristeza é uma falha pessoal que precisa ser rapidamente corrigida antes que alguém perceba.
No caso mencionado anteriormente, as sensações desagradáveis servem de alerta sobre a importância da reunião para Mariana e do preparo necessário a esta situação, o que Mariana não faz quando utiliza todas suas forças tentando ignorar a ansiedade para parecer confiante.
Isso se repete mais ou menos nessa ordem
- Ao desviar o negativo a preparação não gera desconforto suficiente a ponto de ser executada apropriadamente o que reflete negativamente no desempenho apresentado.
- Sensações desagradáveis servem como um alerta ao que é importante para cada um, ao ignorá-las sua mensagem também é perdida
- Sem o guia dos sentimentos desagradáveis as pessoas costumam ficar perdidas, sem alertas que as guiem para suas metas, o resultado são tarefas feitas automaticamente de acordo com demandas do ambiente e não relacionadas com o que querem para si.
Como utilizar isso a seu favor?
Pense sobre o que as sensações querem dizer. Ao sentir medo, entenda o que provoca esse medo. Inicialmente você irá pensar que esse medo é irracional e não deve ser escutado. Entenda que não é necessário agir de acordo com a sensação, somente entendê-la. Identifique o medo, medo de falhar por exemplo. O medo de falhar pode estar sugerindo não tentar algo novo. Utilize essa sugestão para identificar quais objetivos estão relacionados a esse aviso, nesse caso um grande medo de falhar fala que é importante ser bem sucedido profissionalmente, por exemplo. Ao identificar o objetivo de ser bem sucedido pense na melhor forma de atingi-lo.
Ao fazer essa simples troca onde basicamente se identifica o contrário do pior cenário gerado pela emoção desagradável o objetivo que gerou a sensação é identificado. O que torna possível utilizar a racionalidade e gerar hipóteses de comportamentos apropriados para atingi-lo. No caso da meta “ser bem sucedido” evitar o desconforto e a situação provocam o direcionamento para o caminho oposto a meta. A racionalidade gerará hipóteses mais adequadas como enfrentar a situação, estudar muito o assunto, procurar ajuda com alguém que entende do assunto.
Enfim, utilize o pessimismo como impulsionador da preparação necessária ao objetivo.
Colocando isso em prática a sensação desagradável possivelmente diminuirá já que seu alerta já foi atendido. Outras sensações desagradáveis surgirão ao enfrentar desafios novos e precisarão ser tratadas exatamente da mesma forma.
Ao final todos esses sentimentos guiam para objetivos maiores de vida, ser bem sucedida, relaxar mais, passar mais tempo com a família, conseguir reconhecimento…
Colocando isso em prática é possível uma vida mais significativa, sem automatização e atividades e de acordo com o que é importante para si.