Iniciando minha colaboração aqui no site, trago um tema que gera muita discussão e debate na população em geral. Você, bem provavelmente, já deve ter ouvido falar de tudo e mais um pouco sobre essa classe de medicamentos, certo? Mas afinal de contas, Antidepressivos funcionam? E o que são essas pílulas mágicas capazes de melhorar nosso humor? Vamos lá!
Primeiramente: Os antidepressivos são fármacos que vem sendo utilizados na clínica nos últimos 60 anos para o tratamento da depressão e outros transtornos psiquiátricos (Nestler et al., 2002; Hamon e Bourgoin, 2006). Seus efeitos foram descobertos a partir de observações empíricas (i.e através de observação ocasional), e posteriormente foram estabelecidos através de investigações aprofundadas sobre seus mecanismos de ação, biodisponibilidade, etc. A maior parte dos antidepressivos age afetando o metabolismo de monoaminas, que são moléculas bioquímicas que atuam como neurotransmissores. Essas moléculas tem como função a biossinalização nas células nervosas, enviando informações para outras células, sendo que a norepinefrina, a serotonina e a dopamina são as mais abundantes no sistema nervoso central. Ok, mas e o que esse monte de nomes e coisas tem a ver com a melhora dos sintomas nos pacientes? Explico.
A ‘hipótese das monoaminas’ continua como a mais aceita, e propõe que a depressão é causada por uma diminuição da função e quantidade dessas monoaminas ou da função dos seus receptores no cérebro. E é ai que o antidepressivo age, aumentado a quantidade das monoaminas através da redução de sua metabolização, levando à melhora dos sintomas da depressão. Atualmente, os fármacos antidepressivos são divididos em classes de acordo com a forma com que afetam esses neurotransmissores. A imagem abaixo pode esclarecer melhor.

Embora sejam classificados como fármacos para tratamento da depressão, os antidepressivos não tratam apenas isso. Também são utilizados na clinica para outros fins, como por exemplo, nos transtornos de ansiedade, transtornos alimentares, distúrbios do sono, disfunções sexuais, dor crônica, adição e mal de Parkinson.
Ok! Mas e eles funcionam mesmo?
Recentemente um estudo publicado por Andrea Cipriani e colaboradores do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Oxford, no Reino Unido, mostrou que todos os antidepressivos testados em adultos, eram mais eficazes na depressão do que a administração de placebo. Em estudos científicos o placebo é a administração de um comprimido sem o principio ativo, ou seja, sem efeito. Embora o estudo possua algumas ressalvas, outros trabalhos publicados anteriormente (Turner et al, 2008; Kirsch et al, 2008) também apresentam resultados muito similares, trazendo evidência científica de que os antidepressivos podem ser utilizados no auxilio ao tratamento.
Alguns aspectos em relação ao tratamento devem ser levados em consideração. Apesar de úteis para o tratamento da depressão e outros transtornos, os fármacos antidepressivos baseados em mecanismos monoaminérgicos possuem algumas limitações e apresentam alguns efeitos indesejáveis, que variam de paciente para paciente, tais como insônia, dor de cabeça e ansiedade. Os efeitos adversos são mais frequentes no início do tratamento, dependem da classe e anti depressivos e podem comprometer a adesão ao tratamento (Willner et al., 2014). Além disso, a latência entre o início do tratamento e a resposta terapêutica, entre duas e seis semanas, também pode comprometer a aderência ao tratamento (Levinstein e Samuels, 2014; Willner et al., 2014). De todo modo, o diagnóstico correto por um profissional qualificado e o acompanhamento com estratégias de ajuste de dose no início do tratamento, podem reduzir os efeitos indesejáveis e aumentar a adesão do paciente ao tratamento. Se, após o ajuste de dose o paciente não se adaptar ao fármaco, a medicação pode ser trocada utilizando outra classe de anti depressivos, uma vez que nem sempre o medicamento de primeira escolha é o mais eficaz.
Para o futuro, o desenvolvimento de novos compostos capazes de atuar em nos novos alvos terapêuticos, tem por objetivo reduzir efeitos colaterais e diminuir a latência para a resposta terapêutica. Por fim, a informação sobre o assunto é fundamental para o entendimento do transtorno e seu tratamento, e as evidencias científicas estão aí para dar suporte e tirar suas dúvidas sobre o assunto.
Referências
CIPRIANI, A, et al. Comparative efficacy and acceptability of 21 antidepressant drugs for the acute treatment of adults with major depressive disorder: a systematic review and network meta-analysis ,The Lancet, Volume 391, 2018
HAMON, M.; BOURGOIN, S. Pharmacological profile of antidepressants: a likely basis for their efficacy and side effects? European Neuropsychopharmacology, v. 16, p. S625-S632, 2006.
KIRSCH, I.; DEACON B.J.; HUEDO-MEDINA T.B.; SCOBORIA, A.; MOORE, T.J.; JOHNSON, B.T. Initial Severity and Antidepressant Benefits: A Meta-Analysis of Data Submitted to the Food and Drug Administration. PLoS Med 5(2): e45, 2008
LEVINSTEIN, M. R.; SAMUELS, B. A. Mechanisms underlying the antidepressant response and treatment resistance. Front Behav Neurosci, v. 8, p. 208, 2014. ISSN 1662-5153
NESTLER, E. J. From neurobiology to treatment: progress against addiction. Nat Neurosci, v. 5 Suppl, p. 1076-9, 2002.
TURNER, E.H.; MATTHEWS, A.M.; LINARDATOS, E.; TELL, R.A.; ROSENTHAL, R. Selective publication of antidepressant trials and its influence on apparent efficacy. N Engl J Med. 2008; 358: 252–260
WILLNER, P.; SCHEEL-KRUGER, J.; BELZUNG, C. Resistance to antidepressant drugs: the case for a more predisposition-based and less hippocampocentric research paradigm. Behav Pharmacol, v. 25, n. 5-6, p. 352-71, 2014.
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